A Revolução das Máquinas

Você está sentado em um banco em um grande centro, uma metrópole; quieto ou quieta, olhando o movimento ao seu redor como um espectador(a) da vida. É possível observar o comportamento das pessoas e perceber a silenciosa revolução das máquinas ocorrendo diante de seus olhos. Um nome bonito e chamativo que poderíamos tranquilamente chamar de “Revolução dos Dispositivos”, afinal, todos têm smartphones, diferentes tipos de smartwatches e fones de ouvido bluetooth, dispositivos que pouco a pouco permeiam cada vez mais nossos corpos de forma silenciosa.

Em pouco tempo será comum ver também, próteses mais eficientes que devolvem mobilidades a pessoas que perderam partes do corpo lhes devolvendo condições próximas as de antes da perda de seus membros, e, evolutivamente, essas próteses terão tecnologias similares às dos smartwatches que conhecemos hoje em relação ao monitoramento de desempenho do corpo; níveis de oxigênio na corrente sanguínea serão medidos, bem como estado de fadiga do indivíduo e outros detalhes; tudo isso com informações acessíveis em um aplicativo no seu celular.

Comportamentalmente observamos as pessoas imersas em seus dispositivos mesmo quando estão interagindo com seus amigos, colegas e familiares mostrando um retrato que todos já devem ter percebido em algum momento de suas vidas. Quantas vezes quando estamos em uma conversa indesejada, ou sem assunto perto de alguém, partimos para olhar o celular e procurar por notificações inexistentes? Há sempre algo de novo que podemos encontrar nos dispositivos, mas nunca nas pessoas que estão ao nosso lado. E quando passamos a perceber esses detalhes da sociedade atual, passamos a notar quantas vezes nos tornamos desinteressantes para alguém em uma conversa, ou o quanto a outra pessoa se torna desinteressante para nós.

Nunca estamos presentes de verdade, sempre nossas mentes estão divagando em lugares mil que uma simples zapeada no instagram proporciona. Artificializamos as nossas relações interpessoais onde é mais cômodo conversar por whatsapp do que sair e encontrar pessoalmente um amigo; as relações de trabalho por mais que tenham possibilitado grandes trocas de informações entre pessoas de distâncias geográficas continentais também possibilitou evitar o contato próximo com quem está perto. Esta é uma percepção não tão comum, mas acredito que a comodidade da tecnologia cria raízes muito profundas no inconsciente coletivo, capazes de afastar brutalmente as pessoas umas das outras.

Imagem gerada by BlueWillow

Quanto mais estudo sobre a tecnologia, mais tento me afastar dela. Não um afastamento completo e extremo, mas buscando uma relação saudável com essa nuvem de dispositivos que nos rodeiam, em outras palavras, buscando equilíbrio no uso das ferramentas digitais.

Além dos dispositivos já mencionados no texto, agora nos lares, temos a disseminação rápida de assistentes virtuais como a Alexa, que popularizou-se nos últimos 4 anos. Isto nada mais é, que o primeiro estágio de treinamento social para o futuro da humanidade com o uso das Inteligências Artificiais enraizados em todos os setores da comunidade. Dentro da minha área de estudo, pela lógica, o estágio seguinte seria com a difusão das Smart Homes que até pouco tempo, no Brasil, ainda não era uma realidade, mas em uma observação mais criteriosa isso foi alcançado pelo uso da própria Alexa e outros assistentes virtuais. Pois conceitualmente as smart homes precisam de alguns dispositivos interconectados para funcionar, o que é proporcionado pelos assistentes virtuais. Quando estava na faculdade participei de alguns eventos de tecnologia locais e via já modelos mais “arcaicos” do conceito de Smart Home e empresas já se formando e especializando nessa área. Entretanto com a popularização das assistentes virtuais esse conceito deu um salto olímpico do presente para o futuro.

Então, o que temos hoje é um novo salto em direção ao futuro com o boom causado pelo acesso gratuito a IAs, como ChatGPT e MidJourney. É indiscutível o poder e complexidade dessas ferramentas, a precisão e as tantas possibilidades de aprender e gerar coisas incríveis em poucos segundos com essas e outras ferramentas disponíveis. Porém, se olharmos o contexto em que elas surgiram e as prováveis consequências que elas trouxeram, já temos um retrato do que o futuro reserva. Recentemente muitas notícias estão saindo sobre demissões em massa em grandes empresas de diversos setores, principalmente de empresas do ramo da tecnologia. Claro que temos o fator pandemia que influenciou diretamente nesse processo, contudo, essas recentes ferramentas de IA mostram que talvez o buraco seja mais embaixo. É muito mais barato desenvolver uma IA, treiná-la e gerenciá-la do que manter todo um ecossistema de funcionários que são mais custosos financeiramente em relação a essas ferramentas, sendo que as ferramentas operam mais rápido, possuem pouquíssimas falhas (que podem ser rapidamente corrigidas), trabalham 24/7, não ficam doentes, não reclamam e fazem muitas tarefas ao mesmo tempo. Pense comigo, o conceito de IA é tão velho quanto a própria tecnologia computacional, e o que limitava a possibilidade de eficiência de uma IA agir de forma similar a de uma pessoa era o poder computacional que não se tinha antigamente, e hoje tem-se em demasia.

Portanto, enquanto eu estava há uns 13-14 anos fazendo pesquisa no meu celularzinho motorola com dados móveis para fazer trabalhos da escola, grandes empresas como Google, Microsoft, Apple, etc., estavam desenvolvendo ou já treinando suas IAs para resolver problemas e tarefas do dia-da da empresa. Chegamos a um ponto que a evolução computacional possibilitou tamanha capacidade dessas ferramentas que nos impressionamos com o mais básico delas como o ChatGPT, e não estou menosprezando a ferramenta, mas o que temos de acesso hoje, é só a pontinha do Iceberg da real capacidade que essas IAs realmente tem.

Os asiáticos sempre foram referência no quesito robótica, em especial os japoneses. Visivelmente notamos em suas produções de animes, mangás, séries e filmes, o seu grande fascínio pelo mundo dos robôs. E na IREX 2022, feira japonesa mundialmente conhecida nessa área, foram apresentados diversos tipos de incríveis robôs agricultores, montadores, cuidadores de idosos, “bombeiros”, robôs cozinheiros, garçons, etc.

RHP Friends, robô acompanhante apresentado na IREX 2022.
RHP Friends, robô acompanhante IREX 2022.

Todos esses robôs já possuem sua própria IA em maior ou menor grau de capacidade de resolver cálculos e problemas, mas independente do nível de complexidade todos são muito eficientes pelo que foi mostrado nas apresentações dos projetos. Muitos desses projetos apresentados nessa e feiras anteriores são já utilizados em diversos empreendimentos pelo mundo, e no andar da carruagem, em não muito mais tempo, veremos robôs humanoides com mais e mais frequência. Então voltemos ao exercício que introduz este artigo e continuemos exercitando nossa capacidade imaginativa ao adicionar novos elementos colocados ao longo do texto.

Se tínhamos cada vez mais pessoas imersas nas tecnologias que já conhecemos de smart devices, agora a dinâmica muda um pouco com a tecnologia passando a estar imersa na sociedade com robôs que nos preparam e servem alimentos sempre felizes com smile faces em seus displays; que nos resgatam de situações perigosas, incêndios, desmoronamentos, acidentes de trânsito; que nos protegem nas ruas com o patrulhamento de cães mecânicos e inteligentes; que constroem nossas casas ao nosso lado; que dirigem por nós a exemplo dos carros autônomos. Em um olhar bem atento, eles praticamente viverão nossas vidas ou farão parte dela de forma tão intrínseca que dificilmente nos veremos sem eles, a exemplo de como já acontece nos dias atuais com relação à internet, aos celulares, computadores e outros dispositivos tão presentes em nossa rotina. Seremos paparicados de uma forma tão intensa que não nos restará vontade e/ou necessidade de desempenhar tarefas básicas do dia-dia, o que me deixa preocupado logicamente.

Nos acostumamos a fugir das tarefas chatas e cada vez mais estamos perdendo a vontade de fazer o que precisamos fazer. Sem precisar caçar, plantar e colher nosso alimento, acabamos nos tornando sedentários à medida que geramos cada vez mais facilidades em nossa vida. Dessa forma, a grande luta será interna para sair do estado de inércia que será causado por nossa própria acomodação, uma luta mais intensa do que já tem sido. Na verdade existem tantos outros problemas que não cabem em um texto só, sem contar em coisas mais profundas como o transumanismo, que temos nosso querido Elon Musk como expoente desse pensamento nos dias atuais, afinal ninguém é perfeito. Ray Kuzweil que com certeza citarei mais em outros artigos, em seu livro A Era das Máquinas Espirituais, dizia, em outras palavras, que a tecnologia é um componente natural da evolução humana. Então partindo dessa premissa, concluímos que de fato a expansão evolutiva da própria tecnologia é inevitável e vamos ter que aprender a lidar com as consequências positivas e principalmente negativas, que as acompanham ao longo do tempo.

Exemplos de IAs famosas em filmes

Nesse momento vou me abster de comentar sobre as IAs tornarem-se ou não sencientes como a Skynet em Exterminador do Futuro, da simulação da realidade criada pelas máquinas em Matrix ou até a criação do Ultron do Avengers.

Meu objetivo maior com esse texto é alertar sobre o que irá acontecer, em um futuro próximo, se não tratarmos com respeito às coisas pertinentes à nossa vida individual e em comunidade nessa sociedade do conhecimento. Pois, a tecnologia é uma ferramenta, e como toda ferramenta pode ser usada para o bem e para o mal. Por parecer maravilhosa em um primeiro momento, e até é, de certa forma, não significa que está isenta de problemas, e grandes problemas. Contudo, se pensarmos que a tecnologia evoluiu muito mais rápido nas últimas guerras, não se surpreenda ao ver máquinas incríveis sendo usadas em conflitos armados em lugares já famosos por esse problema, e em grandes guerras que, pelo visto, estão todos se preparando para quando aconteçam.

Rezemos para que não ocorram.

Daniel

Criador e idealizador da Multitask Br. Há 10 anos como Técnico em Informática, formado em Sistemas de Informação e fascinado por assuntos relacionados aos padrões comportamentais, empreendedorismo, educação financeira, autodesenvolvimento, filosofia, música, desenhos, e, claro, tecnologia.